um castelo de vidro onde nascíamos
na segunda metade do inverno e morríamos
na primeira
o vento denunciava o apocalipse íntimo da terra
com uma chicotada quente, esculpindo o teu rosto
nas árvores que fechavam o arbítrio da estrada
no cume da serra ardia ainda uma cidade milenar,
as suas portas batiam sobre a minha fronte
com a certeza da interrogação semeada pela manhã
mas sem o ónus de uma resposta
obrigatória
ainda assim tentavas apanhar a sombra
que caía na curva que nos oferecia à cidade inclinada
com a dolência de um gesto, subindo pela serra
como se a rasgasse
que caía na curva que nos oferecia à cidade inclinada
com a dolência de um gesto, subindo pela serra
como se a rasgasse
aí nesse sítio onde ainda era verão
vivias como um lugar sem lugar
como o silêncio vive por baixo
da chama
Sammuel C. Dayton
- diários de um corpo menor