quinta-feira, 29 de setembro de 2016

houve tempos em que a saída
de um corpo para o mar
era o único lugar possível

até ao dia em que os olhos
– azuis, de um azul impossível
foram salvos do sequestro da exposição
por uma criança genuína

e ainda trago uma mão no teu rosto
e outra na vida
que corre para fora de mim

é uma questão de parto
crescemos por onde a água
ganha o seu caminho
por isso a minha vida foi sempre a escavar
por isso abri os melhores sulcos na terra e no rosto
e esperei o tempo de um corpo inteiro, esperei
como a criança que recebe a vida toda por um segundo
no teu joelho
e como ela abri os braços e a claridade da minha sede

foi a água que escasseou
nas minhas mãos

Sammuel C. Dayton
 - diários de um corpo menor

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