quinta-feira, 29 de setembro de 2016

nesse dia a terra era violenta e a vida
um castelo de vidro onde nascíamos
na segunda metade do inverno e morríamos
na primeira

o vento denunciava o apocalipse íntimo da terra
com uma chicotada quente, esculpindo o teu rosto
nas árvores que fechavam o arbítrio da estrada

no cume da serra ardia ainda uma cidade milenar,
as suas portas batiam sobre a minha fronte
com a certeza da interrogação semeada pela manhã
mas sem o ónus de uma resposta
obrigatória

ainda assim tentavas apanhar a sombra
que caía na curva que nos oferecia à cidade inclinada
com a dolência de um gesto, subindo pela serra
como se a rasgasse

aí nesse sítio onde ainda era verão
vivias como um lugar       sem lugar
como o silêncio vive         por baixo 
da chama

Sammuel C. Dayton
- diários de um corpo menor

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