no dia da celebração do seu quinquagésimo aniversário
I
da certeza nasce a tragédia ou
a espuma indizível que sucede a qualquer
lavagem por detonação
da incerteza nasce um novo pensamento
sem ninguém dentro
a dúvida não resolve a pergunta
que ela própria coloca
na ideia há um corpo inerte que se acende
como uma casa
ao movimento vergamos o pescoço vagarosamente
na batalha do corpo contra o chão,
suspensos apenas pelo arco lúcido entre os pés, firmes,
noctívagos
- como estaleiros erguidos a cada passo
para a construção de um milímetro de humildade
maltratado, tomo atenção ao rosto e
ao tempo - inventado sopro da intenção
que o seu rasto vem sempre antes de chegar
armadilhado
de uma qualquer manhã
onde não chegámos a estar
II
tudo anda em frente
um único eixo de movimento
gera as constelações das coisas
e do vento
só existe presente
só um campo corre pelo rio
como um fóssil da imaginação
as suas margens são duas longas mãos a vexar a água
como uma serpente
para matar a sede que serve de rota ao navio de um homem só,
único entre os outros mas o dobro de si mesmo - o homem sábio,
o amante symposiasta
a sua sombra, bífida
é agora longa e líquida
um lírio-de-água cantando ao luar
e os olhos - como ondas do corpo
são a própria face do mar
todos teremos de pagar
custas de pele antes do fim
a nossa conversa, porém
ainda está longe de acabar
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