e um filho fantasma por nascer
a minha memória é uma terra anónima
um pequeno país a sul onde o vento,
ainda em construção
traz do mar o cheiro quente e silencioso
das coisas que nunca vivi
nesse dia a manhã era uma mãe
branca fria, que te expulsava
de uma história inacabada e interior
agora és um estilhaço que respira
sentado sobre a noite
empenhando o corpo ao sonho
em troca do direito de ocupação
do dia seguinte
é um preço discreto e injusto
uma violência visionária reprimida
que te escava um poço por dentro
sem lhe dar água para esconder a tua sede
de noite o céu desabava numa tormenta
de terra, chovendo em cima de nós
como o futuro certo de um lugar
assegurado debaixo do chão
resta-me a luxúria de um sorriso loiro
nos teus lábios ou o movimento incerto
de um beijo por erguer
que me faz o sono assim, hidráulico
para subir às tuas mãos abertas num gesto
ininterrupto
e explicar-te a razão geométrica do teu rosto
e de um deus pouco tolerante
com os seus próprios erros
ainda assim
o sol nasce - como um acto de fé
de mãe incerta
Sammuel C. Dayton
- diários de um corpo menor
Sammuel C. Dayton
- diários de um corpo menor
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